.........................................................
no alto, no canto

durante o tempo todo que ficou sem sair, lera, pelo menos, uma dezena de vezes os versos, os últimos versos do mesmo poema, algo sobre uma janela escura, que se fixara lá, no alto, no canto, enquanto ele mesmo procurava no alto, no canto, lá, uma outra luz, sem ao menos perguntar-se o que acontecera durante todo tempo que ali ficou. algo se quebrara? choveu? as flores abaixo da janela desistiram? as correspondências amontoaram-se na sala, no chão da sala? não, nada havia lá no alto no canto acima da porta da entrada, algo se quebrara, ali, no chão. ou então nem sequer fora um ser humano. talvez algo como uma folha deitada, uma página que vagueia lenta, levada pelo rumor ou pela corrente de ar que passa pelo vão, por baixo da porta. ela deve ter vindo com o alvoroço de uma outra madrugada, um vento devastador atravessando a varanda, a janela. folha agora disforme, quase não se lembra mais o que foi. é só uma folha que ascendeu, desceu e instalou-se ali, no chão, não mais lá, no alto, num canto, sob a luz do mundo