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kamikaze

Bóris e Judith em pé na ponta do balcão
bem perto da porta
vieram se despedir
partem pra Paris
todos estavam indo embora daquela cidade suja
biquei da bebida deles até o Bóris dizer
quer que eu pague uma dose?
não respondi
enfiei a mão no bolso
e saquei a mais triste poesia
desde o final da última grande guerra
uns papéis amassados
o Bóris alisou a poesia e coçou a barba
depois de ler
suspirou e pagou a conta
eles foram embora arrumar as malas
fui sentar no fundo do bar
de onde podia ver a entrada
e a chegada das patrulhas
eu via tudo ventando lá fora
folhas papéis vidas a própria noite
e por um instante pensei
no último voo do kamikaze
da poesia que o Bóris havia lido