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Eva

foi assim mesmo que ela apareceu
encostou o braço no batente da porta
nua
cruzou as pernas
fazendo ponta com um dos pés
à minha frente
sob os mil graus da água do chuveiro
num chão de azulejos escuros
ela foi o começo do meu dia
à tarde
sob o torpor da fumaça e do álcool
da noite anterior
fomos um fiasco ontem
ela disse e sorriu
eu daria meu último cigarro
se pudesse tocar outra vez aqueles lábios
mas isto já faz muito tempo
assim como tudo na vida
ela aparece vez ou outra na tv
e eu a vejo como se ela fosse aquela mesma menina
eu daria um dos meus olhos
para ver outra vez ela embalada dentro de seu sono
ou abrindo as portas da varanda
como um vento, logo de manhã