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até aqui, tudo bem

parece que foi há pouco
o começo de tudo
no prédio do centro da cidade
distribuindo provas do jornal
na sala dos revisores
com o agente da censura a postos
ao lado da minha mesa
30 minutos de descanso
no final da tarde
não sem antes contemplar
o ascensorista
passeando os dedos na fita
perfurada pelos antigos computadores
não sem antes abrir o envelope
e descobrir que ela me deixara
bem no meio das suas férias
através de uma carta
a ferida rasgando
como a ponta de uma baioneta
eu descia até o Mutamba
sentava ao lado do Professor
saboreando sua papaya
Pernambuco picava as frutas
dentro do balcão
e preparava meu lanche
perto do fim do mundo
a carta inundava tudo
o prato o copo o viaduto
eu voltava pelo elevador
o mesmo ascensorista e sua leitura
não sem antes o vendedor de bilhetes
da loteria
enterrar seus pesados olhos
em mim
assim como eu
pouco antes
lendo e relendo a notícia
do falso suícidio
nas dependências da polícia
parece mesmo que foi há pouco
quase agora
que aquilo tudo começou