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alzheimer

novamente o dia entre os dedos
como mãos enfiadas num rio
eu já soube o que viveu lá dentro
fui eu mesma que te ensinei
tudo muito bem guardado
era eu que visitava a casa
do outro lado da ponte
quando o céu se enchia de lua

foi ali que te concebi
nas entranhas da saudade
doeu um mundo inteiro
como quando as louças caíram
toda uma dinastia partiu
com elas foram o chá e as tardes
e uma multidão de impressões
e no fundo do quintal
o cão escondido da chuva
o sol morrendo de velho
como os discos 78 cantando
o ar negro em rotação
fui eu que ensinei a elas
e uma delas me contou
que uma vez subiu para o sótão
e lá descobriu a ternura

meu vestido trazia a floresta
fui eu que te segurei no colo
um pouco antes do susto
eu te apertei em meus seios
teus ossos machucavam meus ossos
e misturada à pele
minha roupa de tão surrada
se desfazia no ar